Escalas duetadas 1

05/03/2010

Pediram-me há muito tempo que falasse mais sobre escalas duetadas. Desculpando-me pelo tempo de resposta sofrível, devo introduzir o tema com uma frase apropriada: “Quem sou eu!” Infelizmente, em minha condição de aprendiz, devo informar que ainda não encontrei um “tratado” específico a respeito que não fosse eminentemente prático, carecendo de maiores explicações. De qualquer modo, tenho tirado algumas conclusões sobre o assunto, principalmente por intermédio de um estudo totalmente desorganizado de harmonia.

As escalas duetadas são obtidas de forma similar aos acordes diatônicos. No caso dos acordes diatônicos, dou a palavra ao Carlos Almada (ver artigo anterior sobre o livro Harmonia funcional):

O processo de obtenção dos acordes diatônicos […] é simples e lógico: escreve-se a escala maior da tonalidade […], numerando-se os seus sete graus com algarismos romanos. Considerando cada grau como a fundamental de um acorde, acrescenta-se, também diatonicamente, a cada um deles terças e quintas (formando-se tríades) e sétimas (no caso de tétrades). (ALMADA; 2009, p.60)

Com a expressão “acrescenta-se, também diatonicamente“, o autor quer dizer que devem ser utilizadas somente as próprias notas da escala — notas diatônicas –, o que resulta, em cada caso, em intervalos sobrepostos de terças maiores ou menores.

Para as escalas duetadas, ao invés de construir-se acordes com terças e quintas (e sétimas), adicionam-se apenas terças ou, alternativamente, sextas. Pode-se dizer que uma escala duetada é  uma escala formada por acordes diatônicos de duas notas.

Corrigjam-me sempre que necessário… Vou tentar adicionar alguns exemplos num próximo artigo (eu não me acostumo com a palavra post).

Harmonia

19/02/2010

Quero destacar aqui duas obras que, unindo teoria e prática, são bastante complementares para o aprendizado de harmonia:

ALMADA, Carlos. Harmonia funcional. Campinas, SP: Editoda Uicamp, 2009.

GUEST, Ian. Harmonia: método prático. 2 v. 4.ed. Rio de Janeiro: Lumiar, 2006.

Harmonia Funcional

Harmonia funcional

Harmonia: método pŕatico. Vol.1

Harmonia: método pŕatico. Vol.1

Harmonia: método prático. Vol.2

Harmonia: método prático. Vol.2

As figuras seguintes apresentam os acordes próprios (tríades diatônicas) das escalas maiores para a viola caipira. Os acordes são representados em pauta musical e tablatura em duas posições cada. Esses acordes são também chamados de tríades diatônicas — tríades porque são constituídos de três notas musicais distintas (embora algumas sejam duplicadas ou oitavadas na viola); diatônicos porque são construídos exclusivamente com as notas de cada escala diatônica. (Para maiores detalhes, ver os seguintes artigos anteriores: Tríades diatônicas e Acordes próprios de Dó Maior.)

Obs. Nestas figuras, optei por representar os acidentes em armadura. Assim e como exemplo, na primeira figura (acordes diatônicos de Lá Maior), o primeiro sustenido (à esquerda) aplica-se a qualquer nota fá da pauta musical (e não somente à nota fá representada na quinta linha da pauta).

Acordes diatônicos de Lá Maior

Acordes diatônicos de Lá Maior

Acordes diatônicos de Si Maior

Acordes diatônicos de Si Maior

Acordes diatônicos de Dó Maior

Acordes diatônicos de Dó Maior

Acordes diatônicos de Ré Maior

Acordes diatônicos de Ré Maior

Acordes diatônicos de Mi Maior

Acordes diatônicos de Mi Maior

Acordes diatônicos de Fá Maior

Acordes diatônicos de Fá Maior

Acordes diatônicos de Sol Maior

Acordes diatônicos de Sol Maior

Vale notar que, utilizando o TuxGuitar (ver artigo anterior), você pode visualizar o acorde no braço do instrumento, como ilustra a figura seguinte.

Captura de tela do TuxGuitar, destacando o acorde de Dó Maior em pauta, tablatura e no braço da viola

Captura de tela do TuxGuitar, destacando o acorde de Dó Maior em pauta, tablatura e no braço da viola

São reproduzidos abaixo as tríades próprias (ou tríades diatônicas) da tonalidade Dó maior.

Tríades próprias da escala de dó maior

Tríades próprias da escala de dó maior

Na formação dos acordes no braço da viola, torna-se necessário duplicar algumas notas das tríades. Sempre que possível, deve-se duplicar aquelas notas mais características do acorde: como primeira opção, a própria fundamental; como segunda opção a quinta justa. Deve-se evitar a duplicação da terça ou fazê-lo apenas sob necessidades especiais, pois ela já possui um papel destacado na definição do acorde como maior ou menor (SCHOENBERG, p. 81.).  Segundo Chediak, o dobramento da terça enfraquece o acorde (CHEDIAK, p.78).

OBS. Para maior rigor, deve-se lembrar que na viola todas as notas já são duplicadas em oitavas ou uníssonos nos seus pares de cordas. Assim, uma duplicação de nota do acorde significa realmente que tal nota será tocada em quatro cordas.

Duplicando-se convenientemente algumas notas, os acordes próprios de Dó maior são representados abaixo em pauta musical, em conformidade com as ilustrações seguintes que representam os mesmos acordes no braço da viola.

Acordes próprios de Dó maior

Acordes próprios de Dó maior

I Grau: C (Dó maior)

I Grau: C (Dó maior)

II Grau: Dm

II Grau: Dm

III Grau: Em

III Grau: Em

IV Grau: F

IV Grau: F

V Grau: G

V Grau: G

VI Grau: Am

VI Grau: Am

VII Grau: Bº

VII Grau: Bº

Referências:

CHEDIAK, Almir. Harmonia & improvisação I: 70 músicas harmonizadas e analisadas. Rio de Janeiro: Lumiar, 1986.

SCHOENBERG, Arnold. Harmonia. São Paulo: Editora UNESP, 2001.

Os acordes próprios de uma escala são aqueles construídos somente com as próprias notas da escala diatônica maior ou menor. São comumente referenciados como tríades diatônicas. A figura seguinte ilustra a escala de dó maior e suas tríades próprias. Observe que, para compor as tríades, as notas acrescentadas “sobre” cada nota da escala são as próprias notas da escala — nenhuma nota estranha à escala de dó maior.

Tríades próprias da escala de dó maior

Tríades próprias da escala de dó maior

É adequado é que cada uma das tríades próprias seja referenciada pelo grau correspondente da escala:

  • I = C
  • II = Dm
  • III = Em
  • IV = F
  • V = G
  • VI = Am
  • VII = Bº (B dim).

Segundo Schoenberg, existe uma importante diferença a ser destacada:

[…] a tríade sobre o primeiro grau é, verdadeiramente, uma tríade maior, pois é ela que dá nome ao tom maior correspondente. As outras duas, construídas sobre os graus IV e V, também são chamadas, habitualmente de tríades maiores, e, neste sentido, fala-se de tríade de Fá-Maior ou de Sol-Maior. Porém, isto é, propriamente, falso e origina confusões. Em Dó-maior só há uma tríade passível de levar o nome de tríade maior: a construída sobre o I grau. As outras duas, IV e V graus, não deveriam jamais ser chamadas de Fá-Maior ou Sol-Maior, pois poderiam induzir ao erro de imaginar que se trata da tonalidade de Fá-Maior ou Sol-Maior. Da mesm maneira, é falso denominar as tríades construídas sobre os graus I, II e VI de, respectivamente, tríades de “Ré-menor“, “Mi-menor” e “Lá-menor“.  (SCHOENBERG, Arnold. Harmonia. São Paulo: Editora UNESP, 2001, p. 76.)

Algumas citações de mestres acerca de harmônicos e acordes… (As referências encontram-se logo abaixo.)

Um som musical não se constitui de apenas uma nota. Juntamente com o som principal soam sons secundários, bem fracos e imperceptíveis. O som principal é chamado som fundamental e os sons que o acompanham são os sons harmônicos (ou concomitantes, ou complementares).

Uma corda, ao vibrar em toda a sua extensão, produz uma determinada nota. Enquanto a corda vibra por inteiro, simultaneamente, ela vibra também dividindo-se em duas metades, produzindo um som uma oitava acima da nota original. Além da vibração da corda por inteiro e em duas metades, ela vibra também, simultaneamente, dividindo-se em terços, em quartos, em quintos, etc., produzindo as vibrações secundárias. (MED, p.92)

Série harmônica é o conjunto de sons que acompanham um som fundamental (som gerador, som principal). (MED, p.93)

Ver também o artigo relacionado da Wikipédia, intitulado Série harmônica (música).

Na sucessão dos harmônicos superiores, […] surge, depois de alguns sons mais facilmente perceptíveis, um certo número de harmônicos mais débeis. Os primeiros são, sem dúvida, mais familiares ao ouvido, enquanto os últimos, dificilmente audíveis, soam inusitados. Com outras palavras: os mais próximos parecem contribuir mais, ou de maneira mais perceptível, ao fenômeno total do som, ao som como uma eufonia, capaz de arte; ao passo que os mais distantes parecem contribuir menos, ou de forma menos perceptível. (SCHOENBERG, p.58)

Se a escala é a imitação do som horizontalmente, em sucessão, os acordes são a imitação vertical, simultânea. A escala é a análise do som, assim como o acorde é a síntese. Exige-se de um acorde que conste de três sons diferentes. O acorde mais simples, evidentemente, é aquele que melhor se assemelha aos efeitos mais elementares e nítidos do som, ou seja: a tríade maior constituída pela fundamental, pela terça maior e pela quinta justa. Este acorde imita a eufonia do som, reforçando os harmônicos mais próximos e deixando de fora os mais distantes. (SCHOENBERG, p.67)

Referências:

MED, Bohumil. Teoria da música. 4a. ed. Brasília: MusiMed, 1996.

SCHOENBERG, Arnold. Harmonia. São Paulo: Editora UNESP, 2001.

O violonista Almir Chediak proporcionou um enorme salto de qualidade para o ensino de música no Brasil. Seus livros musicais, dentre eles os famosos songbooks, levaram a um púbico bem maior aqueles conhecimentos teóricos que ficavam bastante restritos nas escolas especializadas. Sua obra prossegue na Lumiar.

Um livro de Chediak muito bom é Harmonia & improvisação. Trata-se de uma obra em dois volumes e refiro-me aqui ao mais básico, o volume I. Não existe qualquer referência à viola caipira e, embora os conhecimentos ali tenham sido escritos com foco principal em violão e guitarra, podem evidentemente ser aplicados também no estudo da viola. Muitas vezes, antes de cometer aqui neste blog meus artigos, tento sanar minhas muitas dúvidas consultando seus ensinamentos. Evidentemente que os muitos enganos que você pode encontrar por aqui são de minha exclusiva responsabilidade.

Harmonia & improvisação

Harmonia & improvisação

CHEDIAK, Almir. Harmonia & improvisação I: 70 músicas harmonizadas e analisadas. Rio de Janeiro: Lumiar, 1986.